O Zé amontoava títulos, os criava antecipadamente. Quando enfim procurava-os em seu catálogo, dificilmente serviam.
Sérgio uma vez disse que uma capa de disco, um título, mudavam toda a percepção de uma obra. Eu continuei escutando as músicas, com ou sem o título, com ou sem a capa. Nada mudou.
Títulos não são Nomes, explico:
Missa em B menor não é um título, é um nome.
Sonata não é um título, é um nome.
Sonata não é um título, é um nome.
Metafísica não é um título, é um nome.
Um nome é um código que indica alguma coisa, sem lhe acrescentar algum sentido. Existem nomes brincalhões, contendo alguns caracteres da coisa. A exceção aqui não passa de via de regra.
O título intenciona. Faz reter sob uma esfera primordial uma energia de conceito, alastrando-se a todas as esferas da obra que se seguirá.
Nos livros os títulos informam, porém, sem ser capaz de ilustrar. A imagem aqui é a de um foco de luz que condicioina nossa disposição em uma única direção, como no efeito fotoelétrico, ou bem verificamos sua forma ou o conteúdo do que se titula.
Mas a união não é de todo impossível.
Mas a união não é de todo impossível.
Quando lemos em um título: "Ensaio acerca do entendimento humano" sabemos o que esperar, em termos de conteúdo e forma, não em virtude própria das palavras, o sentido geral é dado relacionalmente por outras obras com o mesmo título.
É assim que uma única partícula tão peculiar detém tão poderoso efeito:
. 'Da' origem dos animais
. 'Do' sono e a vigilia
. 'Da' alma
. 'De docta ignorantia
. 'De' la causa principio e uno
. 'Das' revoluções das esferas celestes
Os títulos compartilham de uma história e tradição, e depois de copérnico, dificilmente veríamos novamente estes artigos definidos no genitivo.
Autores querem dar títulos, e se comunicar a partir deles. Até que os títulos se comunicam entre si. Antes dos Títulos, na música vieram os apelidos: Júpiter, Pastoral.
Chopin repreendia os editores ao dar 'títulos' a suas peças. Ele sabia exatamente o que fazia diante do romantismo.
Ao passarem a escolher Nomes ao invés de Títulos, compositores adicionavam mais força aos jogos de leitura das peças instrumentais.
. Syrinx
. Ionisation
O título se prolonga e intenta abarcar atmosferas científicas, mitológicas, poéticas. Os títulos começam a se referir metalinguisticamente ao procedimento das obras a que se referem. Uma volta ao paradigma livresco:
. Partiels
. Atmospheres
. Continuum for cembalo
Títulos e analogias autorizaveis, como em Hanslick, a descrever fenômenos sonoros e musicais.
Entender títulos não é tanto entender a relação deles com suas respectivas obras, mas sim compreender o que se quer com títulos. É um jogo tão mais sutil quanto mais se compreende sua serialização, pois para se entender o que se quer com títulos temos que entender também o que seja a obra.
Tradicionalmente, entender o que seja a obra é a porta de entrada para se entender o jogo implicito ao título. Pelo menos, este é o jogo tradicional com os títulos. Mas estando o jogo em aberto lança-se sempre imprevisivelmente sua função e mostra-se algo como uma arte de titulações, titubeios e enfim títulos.