domingo, 10 de julho de 2011

O Ficcional


Ad terrorem, por uma deriva, a ciência, a filosofia e mesmo a vontade ou os povos, avançam 


Caminhamos ciclicamente até um estágio; cria-se um 'ficcional'.





No minuto 1:10 podemos observar o Physarum, análogo cultural, a exercer sua tese. Quiséramos nós poder entender o que se passa em seu interior, e que tipos de ficcionais estariam a se produzir.

Observar o Physarum e o fascíneo dessa observação, diferente da imaginação, é ter identificado em nós mesmos um núcleo em comum, com um ser elementar. Tudo leva a crer que nosso interior, e o do Physarum quando assim observado, carrega algo como o cerne do conceito de nossa vontade e de toda essa dinâmica vital, uma forma ficcional.


A ciência é um ficcional. Assim como a religião e a ontologia. Não precisamos agora aludir aos motivos pelos quais ficcionais são criados e mantidos, mas ouvir atento em que consiste o ponto nodal de passagem para o ficcional. Tal passagem se verifica no momento mesmo em que a ciência adquiriu seus vultos recentes.

A física traçou um método, e sua felicidade foi imediatamente compreendida. A química, a biologia, a psicologia, a sociologia, cada qual cunhou um método e felicidades.


Esses são conjuntos que dificilmente se intercedem. Não há conhecimento algum sobre como comportamentos de certos objetos da física se manifestariam em conjunto, de modo biológico ou mesmo psicológico. Não há nenhuma regra física dedutível a esse ponto. E em nenhum nível é possível pensar uma teoria unificada como sonhava Einstein, ficcionalmente.


No momento em que a prática de um conhecimento está em andamento profícuo, no momento em que vemos uma felicidade, imitamos. Em sentido mais pueril possível - no sentido em que as crianças praticam, em borrões.

No momento em que se diz ‘ciência’, estamos aludindo (e não significando) nada mais do que isto: ‘movimento imitativo de algo profícuo’.

O seu significado, o simbólico da ciência é nada mais que: ‘a imagem de um fazer profícuo’.

Assim como a criança, a ciência, no momento em que se vê interrogada não pode esboçar qualquer reação que não seja imitar novamente ‘aqueles’ gestos, sem saber compreender ‘aqueles’ e ‘estes’.

A física é um método e só isto. ‘A ciência’ não é apenas um método, é a calda de um ficcional que impulsiona a constituições de métodos irreais: a identidade, semelhança e parentesco de coisas que inicialmente não se correspondem. 

Métodos quando profícuos são substantivados, ‘a física’, ‘a escultura’, ‘a educação’.

'A ciência' (a idéia de ciência) é a posteriori. É a isto que devemos atentar, a fixação de uma idéia é sempre dependente de algum sucesso, e este sucesso se liga à idéia de alguma coisa, e esta ao nosso Physarum interno, nosso ficcional. Temos uma felicidade. 

O que é profícuo encerra-se em si mesmo, e seu método segue uma história própria que não pode ser estendida. A idéia de ciência, quando quer englobar tudo - a ciência quer ser a totalidade das explicações - escamoteia a realidade dos métodos e o problema de suas relações. 


Todo ficcional se comporta ‘como se’ houvesse comida a encontrar, e o faz sem saber ou sem querer - está a fazer algo sem propósito. Tal beleza heróica de um ato ad terrorem continuará a encher nossos olhos. Mas a ciência ficcional necessita de um anti-ficcionalismo, pois mesmo Einstein deve compreender que uma teoria unificadora é um método, e que portanto, ou se trata de um golpe da física a aglutinar todos os assuntos sob seu método, ou, um novo método que não sendo nenhum dos métodos existentes não será física e tornará todos os restantes visões estanques daquilo que dali em diante encherá novamente nossos olhos.

Contudo, o ficcional cria também ficção. A ciência, a religião e a filosofia são métodos que pretendem produzir objetos que anulam a existência de seu método. Tais objetos, o objeto da natureza, o ideal e a fé são ficções, porque um objeto de um ficcional. Creio que muito já se fez com os ficcionais.


Iniciemos uma ciência não ficcional, por entender que não há ciência. O que existe de concreto são métodos.






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