sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A melhor obra de Andy Wahrol

Me perguntei qual seria a melhor obra de Andy Wahrol.


Os vídeos decididamente não são interessantes, os objetos cotidianos que ele dipõe tão menos, as reproduções de fotos repetidas sob cores variadas, de personalidades, não interessam igualmente. Há alguns objetos e temas de design, uma pequena escultura de uma mulher fazendo compras... coisas de estudante e não obras com o maiúsculo.

Poderia ser dito que o interessante de suas obras estavam em sua exibição nas galerias. Não creio nesta hipótese, desde o início do século XX nos habituamos a não nos chocarmos com este tipo de coisa. Não haveria tanto mais o que dessacralizar.

Definitivamente as melhores obras seriam então aquelas em conjunto com Basquiat, justamente estas que por ação de um artista faz ser impossível localizar o que há de Wahrol nelas...

…nossa busca continua.


Depois de muito procurar concluí que o melhor é admitir que suas obras são muito ruins mesmo, e não há o que se fazer sobre isto. E como todas são igualmente ruins, se torna uma tarefa vã procurar sua melhor obra, quanto menos uma melhor obra de arte.

Mas, se admitirmos que não são objetos artísticos o que Andy Wahrol produziu de interessante, ganhamos uma porta de acesso, e no mesmo lugar, uma interrogação: o que afinal faz o nome de Wahrol em meio ao senso-comum estético?

Talvez a formação e profissão de Andy possam explicar isto. Ele era um designer.

Sua produção neste ramo é abundante, e atravessa o vídeo, a pintura e a gravura, dentre outras técnicas. E como todo objeto de design, seus objetos não são interessantes, são no mais harmônicos. Tendo em vista uma gradação do design que se move entre a indiferença até o curioso, mas nunca interessante.

De novo este problema, os objetos são desinteressantes e não-prenhe. Mas no começo dos anos 50 lhe renderam uma exposição. E por toda sua carreira (observem suas capas de revista, sobretudo da Vogue) não fez mais do que produzir capas, publicidade e coisas que já fazia habitualmente, independente do meio ao qual se vinculava.

Em que consiste sua melhor obra?

Consiste em não ter nenhuma obra. Tratar-se-ia então de uma façanha.

A façanha consiste em ser o primeiro designer a desvincular seu trabalho de um produto. Ora, designers vendem seu trabalho para que empresas possam vender melhor seu produto. Quando o designer vende seu trabalho está vendendo um meio que será utilizado.

Wahrol conseguiu o inimaginável, transformou a publicidade, a etiqueta e o logotipo em produto, ele foi capaz de vendê-lo sem que precisasse se atrelar a um produto, e se tornou o primeiro designer autônomo, ou o primeiro designer a se despregar do sentido do trabalho, ou apenas um dos maiores vendedores do mundo.

A desvinculação de seu trabalho, tradicionalmente tido como um meio, passando a obter um fim em si mesmo, acaba naturalmente se esbarrando com outro mundo de criação, e como não poderia deixar de ser, com o que existia de mais próximo de um produto sem ‘função’, um produto sem um 'porque'; este era tradicionalmente reconhecido como arte. Mas nos anos 50 e 60 tal definição de arte já pareceria decadente e 'démodé' o suficiente para que pudéssemos identificá-los assim de imediato.

Mas vejam, diante de um trabalho de design, sem grandes qualidades esteticas, e sem nenhum produto a suportá-lo, o que faria vendável tal produto? A arte. Como suporte de publicidade para este 'anúncio em abstrato'. Se a arte alçou a abstração como uma demanda de liberdade, o design se viu surpreendentemente diante de uma mesma conquista.

Nesta medida o termo 'Pop-arte' parece muito justo. Não se trata de qualquer relação a um passado da arte, antes, trata de um passado da própria producão visual de uma economia, e de uma relação presente no mundo Pop, o fato dele se reproduzir. Seja em rótulos, em produtos que se vendem por qualquer motivo, qualquer figura que cole, que decole.

É sem dúvida mérito de Wahrol encontrar a substância da reprodução, a substância Pop. Seu espelho, na medida em que reflete as figuras famosas, os meios badalados, espelha não mais os personagens, mas esta substância, justamente porque subrepticiamente não encontramos nestes objetos absolutamente nada, nenhum interesse, apenas uma abstração no real sentido da palavra, retirada do sentido que um objeto é capaz de emanar.

Tal recurso visa entrar em um outro maior, a da abstenção, em prol de uma contemplação cíclica que parte do que parece importante (personalidades, marcas, eventos) na medida em que se encontram na televisão ou no 'mundo da arte', e chega ao culto desta imagem, justificando sua aparição na televisão e no mundo da arte. Tal capacidade de retirar o objeto do campo da experiência e sobre ele ativar uma série de comportamentos e sentimentos sociais é algum mérito, porém a técnica é da publicidade. A abstenção é sem dúvida a abstenção de diversas relações do mundo.

Então, qual a melhor obra de Andy Wharol?


A melhor obra de Andy Wahrol é sem dúvida seus fãs, que mantém o ciclo fechado. Andy Wahrol é um ídolo porque tem fãs, e tem fãs porque é um ídolo, e isto nada tem a ver com suas obras, mas com sua façanha empreendedora, de conhecer um mercado e não criar tensão entre uma rede de mercados.

Porém, ninguém neste mundo é tão ruim a ponto de seu trabalho não poder ser elogiado. Seria possível, humanamente possível, que algum profissional, ao menos por um dia, ou por quinze minutos, não produzisse algo de minimamente interessante?

Somos muito otimistas a este respeito. Aqui vai uma obra interessante de Wahrol, mas que porém, nunca ví nada parecido em qualquer outro trabalho seu. Aqui (sic) o fato de ser coca-cola não soma nem subtrai, fazemos outro tipo de abstração e abstenção:


http://gabbiadorata.files.wordpress.com/2011/03/andy-warhol-bottles-of-coke.jpg

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